segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Travessia do Meridianu

Olá, aqui estou eu novamente postando outro devaneio... Bom, devo antes dar-lhes bom dia, boa noite ou então boa tarde. Creio que viram a mudança do blog, espero que tenha melhorado a leitura e que o visual seja do agrado de todos.
Ano novo, Novo Layout.

Bom, antes de lerem o relato de um pobre homem num navio, creio que eu deva fazer umas mensões, não?
A ideia surgiu antes de mais nada no trabalho (pra variar) enquanto, no mínimo, estava desligado com uma tesoura na mão (para quem não sabe sou um jardineiro). Então me viera a idéia... como seria relatar isso...?
Na real não é uma idéia nova, tampouco inédita ou inovadora, mas é uma ficção um pouco surreal, dentro dos gêneros que amo tanto que é a ficção e a fantasia. Saudade de voltar a escrever algo tão ... viajado?
Enfim, espero que seja de vosso agrado, Leitoras e Leitores.

Bem vindos aos pontos longinquos da minha mente estranha e violenta;




A Travessia do Meridianu







“Desde que me lembro, tenho essa moeda no bolso.”


A Nau vinha atravessando o que chamam de Meridianu desde que me lembro existir, talvez eu tenha perdido a memória... Mas ninguém fala disso, todos aqui, neste convés parecem ser como eu, desmemoriados, doentes e fracos.
Cada um nesta embarcação tem uma função, desde cuidar das velas, alimentarem a tripulação, pescar, cuidar das rotas... A minha?
Eu ponho ossos na caldeira.
Há muito a vida no Meridianu era ruim, muitos morriam, muitos morrem. Essa viagem está nos custando muitas vidas, mas ninguém fala disso também, meu trabalho é ficar nas caldeiras, onde alimento as chamas com os ossos daqueles morrem no navio.
As caldeiras mantêm o navio aquecido nestas águas cinzas que refletem as nuvens carregadas no céu tristonho e abatido.
O navio é recoberto com dutos, por onde correm vapores que nos aquece. A carne dos mortos jogamos ao mar, também tenho de desossar meus companheiros a fim de queimar apenas os ossos.
Creio que estamos muitos e muitos anos no mar, não tenho como datar isto, mas me parece uma lembrança perdida a terra seca e o céu límpido, ás vezes acho que isso fora um devaneio. Ainda duvido que tal lugar exista por trás dessas águas enevoadas.
Vivemos da pesca, caçando crustáceos transparentes com gosto de alga mofada. Não temos remédios tampouco higiene descente. Há pouco tempo houvera uma praga que matara boa parte da tripulação, éramos muitos no começo, muitos... Não passamos de vinte agora.
Recebemos ordens de Vulkhan, este homem assustador que quase não sai da cabine da proa. Não conhecemos seu rosto, não sabemos nada dele, apenas que estamos indo para um lugar além do Meridianu. Das poucas vezes que o vimos, ele trajava um manto escuro e um elmo na cabeça, oxidado devido a maresia, e as vezes vislumbrávamos suas mãos nuas, acinzentada e esquelética como os mortos.
Não entendo Vulkhan e sua missão, mas simplesmente seguimos sua ordem como se ela pudesse salvar nossas vidas.
Às vezes, vemos também os remadores que vivem nos cascos, eles não comem, não bebem, são tão pálidos quanto Vulkhan, usam panos enrolados no rosto e quase não usam roupas, com exceção de trapos que protegia as partes intimas. Nunca descemos até os cascos onde ficam os remos tão grandes comandados pelos Remadores. Eles não falam e muita das vezes tive impressão de que os mesmo não têm rostos, não tem nome e são todos muito parecidos, não fossem pelas mudanças físicas de masculino e feminino.
São muitos.
Muitas vezes eles nos salvaram das tempestades, quando ás vezes as velas já não serviam mais, eram os remos que nos mantinham na rota.
Muitos de nós nos perdemos nas águas. Quando Vulkhan aparecia nessas situações ele dizia que quando um homem ou mulher dentre nós caísse nas águas, não deveríamos resgatar, pois um grande mal voltava com eles à tripulação.
Um de nós caiu durante a tempestade e quase morreu afogado, engolira muita água. Ignoramos as ordens do capitão e o trouxemos de volta ao convés e então, Vulkhan o viu e o matou com sua espada, com ferindo no peito de onde saíra um sangue escuro e fétido. Após este incidente, do qual nem os ossos daquele homem eu joguei na caldeira, houvera uma praga que dizimou quase todos de nós.
Vulkhan havia avisado e nós não ouvimos.
O sangue escuro ainda mancha a madeira cinza do navio e um cheiro pútrido ainda impregna nossas narinas. Assim, todos que caíam nas águas, desde então, eram deixados lá.
Ainda que gritassem.

Nunca vimos outra embarcação, embora houvesse quem dizia que outras Naus já foram vistas. Talvez alguém mais velho e antigo que eu, mas não me lembro ao certo dele, tampouco me lembro de uma época antes desde navio.
Hoje, no entanto, parece que estamos próximos do fim do Meridianu, as águas estão ainda mais sinistras e lúgubres que antes. Vislumbramos corpos boiando na água e eventuais manchas vermelhas que no decorrer desta manhã aumentaram em tamanho até tornar totalmente a cor do mar num carmesim de morte.
A nevoa dissipava-se lentamente, havia um sentimento eufórico em mim... Creio que em todos agora que navegávamos em águas calmas.
Não tem vento.
O som alto e perturbador vinham dos remadores que violentamente batiam seus remos contra a água e restos de corpos.
Aqui e ali começavam a surgir carniceiro, com gralhares altos e o cheiro podre de sangue e carne parecia infectar nossas peles junto à maresia. E então todos começaram a pensar se era naquele lugar que deveríamos estar.
Vulkhan deixou a cabine e nos reuniu junto à proa e ficamos em silencio, ouvindo as aves e o choque da madeira com a água, eventuais batidas surdas de ossos contra o casco, ou seriam carnes?
A nevoa estava fina e vermelha. O sangue fazia parte daquilo. Meu peito encheu-se de temor.
Pensei em Deus, palavra nostálgica. Nome Nostálgico, não pensava nele desde...

A Torre.
No horizonte havia uma Torre que subia até as nuvens, era algo inacreditável, escura e solitária, seu reflexo dançava naquela água suja e subia da escuridão até ás nuvens carregadas onde relâmpagos silenciosos brilhavam majestosos.
Mas havia uma aura sinistra em sua base e a água negra parecia se adensar.
Logo havia um piche tão grosso que parecia sólido.
Não havia mais água ali.
Apenas uma espessa camada de algo sujo, pegajoso e não demorou a ficar completamente sólido.
As âncoras desceram, quebrando a casca fina daquela coisa brilhante que nos refletia como um espelho. Haviam carniceiros aqui e ali e então os Remadores desceram a ponte que dava direto naquele vidro negro.
Nós todos descemos e Vulkhan nos acompanhou.

“Dêem-me as moedas” disse ele com aquela voz esganiçada, como que quem rasgava o a pele humana. Dentre todos que estavam lá, apenas eu a tinha. Os remadores desceram. Deus... Vulkhan ordenou o massacre daqueles que não tinham moedas. Aqueles remadores sem rostos os mataram a socos e chutes de extrema violência. Eles gritaram, pediram clemência, mas Vulkhan não fizera nada, estava impassível diante de tal cena escabrosa. Eles gritavam... E o desespero dos dezenove era o deleite dos carniceiros. Tentei mover-me, mas não consegui, queria fugir dali, parar de ouvir tais gritos. Era essa a natureza humana? Fugir? Falta-me coragem para defender aqueles homens e mulheres... Deus estava no topo daquela Torre? Porque não fazia nada? Não lançava um de seus relâmpagos para punir Vulkhan?
Eu estava ajoelhado quando ele prostrou-se diante de mim, arrancou a moeda de minha mão e, sentindo sua respiração que saia com fumaça de dentro daquele elmo velho, o vi apontar para aquela torre.
“Você pagou pela Travessia e sobreviveu a ela. Parte do Carma está pago. Lá, na Torre do Expurgo, terá a outra parte a ser resolvida, ou não. Mas você não é mais problema meu. Já trouxe a sua alma até aqui. Adeus, ou até a próxima viagem.”

Aquele desgraçado terminou dando de ombro e subindo no navio mais uma vez.
Os remadores se atolavam na lama negra arrastando os corpos dos dezenove tripulantes para dentro da água, enquanto esquivavam-se dos carniceiros com seus rasantes ferozes.
Lentamente, sujos de sangue e lodo, eles adentraram navio.
A âncora fora puxada de volta e eu podia ouvir aquelas correntes serem mastigadas pelas engrenagens. Os remos começaram a mover, calçando o navio na lama e o arrastando tão devagar quanto um por do sol.
Eu o vi, sem mexer sequer um músculo, desaparecer em meio a nevoa. Agora restava apenas eu e os corvos.
Atrás de mim; o Purgatório depois de um deserto sem fim feito de um vidro negro que me reflete a alma falida e cansada.
Eu estou morto.
E depois de uma eternidade naquelas águas cinzentas, talvez fosse apenas isto que restasse...





...

5 comentários:

Enrico disse...

Muito bom!
Quebrou o jejum com louvor, excelente narração.

Lord il Vec disse...

show de bola, parabens, muito bom para variar....

Lord il Vec disse...

ficou show de bola, naum sei pq mas tive lembranças de CV....hehehehe, mas ta valendo....

Biiscuit Rita Mel disse...

Que tenso...

gostei da parte q ele disse o q fazia no navio e do final...um pouco parecido com o q vivemos neste mundo presos indo de um lado para o outro, vivendo sempre as mesmas coisas, pensando num deus e numa saida melhor...

Heitor V. Serpa disse...

Que viagem!! kkkkkkkkk. Adorei o conto, excelente só pra variar um pouquinho ^^ não sei se estou errado,mas saquei uma referência à Torre Negra de S.King ae, hehe.

Ah,o layout melhorou bastante! Continue postando meu amigo!