sábado, 3 de julho de 2010

Luxúria - Insanae Afecto

Antes de iniciar o Conto, creio que deva fazer algumas notas.
Mas não estou com vontade...
Enfim, criei essa personagem há uns bons anos. Mas nunca escrevi nada sobre ela. E imaginei que, seria interessante contos sobre ela passados em variadas épocas.
Mas escolhi uma época legal para um primeiro conto.
Antes seria de uma outra serie, Zênite, cuja qual depois falarei aqui. Já aviso, está sem revisão, mas tenho uma certa pressa e uma certa preguiça para revisar.
E então, vou postar ele de forma crua. Ainda que talvez eu o mude...
Mas espero que a leitura seja agradavel.
Ainda que com uma narrativa triste e melancólica.

Enfim... Boa Leitura.








Luxúria - Insanae Afecto




O som do papel roçando o piso de madeira e o seguido som do sininho do carteiro, fez com que o homem se adiantasse a porta da sala e ver ali, o envelope endereçado a seu nome a sua espera, era um envelope branco. Ao pegar, nota o nome familiar do remetente, uma mulher cuja qual não tem noticias a pouco mais de seis anos. Ele senta na poltrona, repousando seus pés sob um tapete persa, ascende charuto e começa a rasgar a parte lateral do envelope, devidamente selado.
Suas mãos suavam ao segurar o papel, uma doce nostalgia junto do perfume da carta o trouxe belas lembranças, era um papel, redigido a mão, mas não era a letra que conhecia...
Levou a mão aos cabelos grisalhos, pôs a carta de lado no braço da poltrona e foi até a vitrola, escolheu um som relaxante para deixar tocar, era um momento especial para ele, Karine o havia enviado uma carta... Doce Karine...
Sua esposa ia demorar a chegar, havia ido a feira junto a suas amigas dondocas, havia tempo para ler aquelas quatro paginas de texto perfumado.
Olhou para a carta de longe, duas folhas ao lado de um envelope rasgado. Puxou a fumaça do charuto e junto dela deixou a musica entrar pelos seus ouvidos.
Doce Karine...
A carta estava agora em suas mãos suadas, e então, ele começa a ler.

Greenhall, 23 de Maio de 1922

“No inicio, não sabia se ia escrever esta carta, tampouco sabia se talvez a leria de bom grado depois de tudo o que tivemos e de como acabou.
Mas devo admitir, ainda o amo e por isso, para ser honesta comigo mesma, achei que você devia saber, ainda que sejam fatos terríveis, incompreensíveis e aterradores. Neste momento, no momento em que esta carta está sendo redigida, fazem exatos cinco anos e quatro meses que o fatos a seguir ocorreram. Uma enfermeira está redigindo para mim.
Peço para que leia até o fim, por mais impressionante que isso tudo possa parecer, embora ninguém acredite em mim, nem mesmo a pessoa que está escrevendo, mas mesmo ela e o meu medico acreditam que talvez seja melhor para meu tratamento que eu lhe relate sobre isso.
Há seis anos desde a ultima vez que o vi, naquela festa para as pessoas nobres. Você estava tão bonito e charmoso naquele terno branco com uma gravata borboleta. Lembro-me de sentir impaciência de vê-lo conversando com aqueles homens. Aguardava ansiosa que viesse até mim. Havia me preparada toda, havia feito maquiagem, comprado um belo vestido carmesim, lembra?
E então, quando a banda começou um solo lindo de Sax, você voltou seus olhos para mim... Pareciam duas safiras num mundo cinza. Você sorriu e acenou, num gesto cortês.
Permaneci ali, apenas a observar meu amado... Até que, num momento de distração, você estava diante de mim. Senti suas mãos quentes tocarem meus ombros. Pôs seu terno sobre minha pele e então me serviu uma taça de vinho.
Bebemos na varanda e logo depois, estávamos em seu carro, nos dirigindo para o hotel no qual estava hospedado. Lembro-me de como beijava meu pescoço e tocava minha pele com um desejo ardente, eu sentia o mesmo, meu amado. Eu era jovem, tola e apaixonada. Adentramos seu quarto e então nos amamos como nunca o havia feito. Foram os melhores dias de minha vida, aquelas semanas em que esteve em Greenhall, mas também foram minhas ultimas semanas felizes e naquela noite, meu amor, você me matou. Senti as agulhadas de cada palavra dita a mim sobre a verdade que eu me negava a aceitar. Se soubesse que era casado, desde o inicio, eu jamais teria me aventurado nessa paixão, jamais teria dado brechas... ou talvez teriam ocorrido tudo da mesma forma. Como te amei, como te amo.
Então, você se foi.
Se foi, deixando para mim todo o sofrimento, amargura e decepção que eu jamais soube que existia. Tais sentimentos são tão cruéis, tão terríveis e como pode destruir a vida de uma pessoa. “Mas o pior veio nas semanas seguintes, quando descobri que estava grávida de um filho seu.”


Nesse momento os lábios e mãos do homem estavam trêmulos. Ele pôs o charuto no cinzeiro e foi até a janela, olhou por entre as cortinas e não havia sinais de sua esposa. Desligou então a vitrola, e mais uma vez fitou de longe os papeis, desta vez com amargura, tensão e tristeza. Não sabia mais se queria ler aquilo... Ele se sentou em outra poltrona, passou a mão no rosto agora suado e respirou por alguns segundos... Karine... Karine têm um filho seu? Um filho cujo qual sua esposa, em uma vida de casados, não pôde lhe dar. E então, em uma aventura numa viagem a negócios... Não era possível de acreditar.
Karine possivelmente era uma dessas que tentavam dar o golpe da barriga? O medico disse que não poderia ter filhos, isso não era possível.
Ele respirou, olhou para as mãos.
Seria insanidade da parte de Karine vir lhe pedir algum auxilio agora. Nunca cairia numa historia como esta. Mas se esta mulher aparecesse agora, isso poderia significar o fim de um casamento. Não. Não.
Tinha de terminar de ler.
Sentou novamente junto da carta e com a mão na barba e os olhos azuis tensos e quase lacrimejantes, continuaram a ler a carta perfumada.

“Não contei a ninguém sobre a gravidez e eu podia sentir sua vida dentro de mim. Um mês se passou e então dois. E eu podia sentir o prazer de ser mãe, de carregar ainda como um presente de um amor perdido para sempre. Porem, a barriga começara a crescer e as pessoas começaram a perguntar, e burburinhos começaram pela vizinhança. EU não tinha mais escolha, senão admitir sobre a vida dentro de mim. Meu pai de batera quando soube e minha mãe, por mais chorosa que ficara ao observar, não fizera nada por mim, nada. Soube ali que jamais queria ser como ela. Será que ninguém entende?Quase que de imediato eu peguei minhas roupas, pusera numa mala que peguei de minha mãe, e ainda naquela noite eu parti. Ah, como doía, meu amor. E pelas ruas, nas noites chuvosas e frias eu tinha esperanças de encontrar-te em alguma travessa. E chorei noites afinco pensando em você. Por sorte eu pude encontrar uma boa senhoras que me dera abrigo, me dera de comer e ensinou-me uma ocupação. Ela tricotava para lojas de roupas próximas. Ensinou-me a bordar e mais um tanto de outras coisas que nem minha mãe sabia. Durante meses não sai de casa. Pareceram anos de angustia, pois ninguém de minha família procurou-me. O bebê estava crescendo, saudável e remexia-se dentro de mim. E então, certa noite, eu a vi. Uma mulher alta de longos cabelos lisos, olhos verdes como esmeraldas. Era linda, elegante, jovem e atraente. Seu perfume incendiou a casa da Sra. Saint.
A mulher, ao que pude notar de primeira estância estava atrás de tecidos. Mas logo depois de conversar comigo, notei que seu interesse era por mim... Ah meu amado, eu devia ter notado, devia.
Ela ofereceu-me uma proposta irrecusável. Disse que, se eu quisesse vender a criança de meu ventre a ela, ela pagaria muito bem. Era uma quantia enorme de dinheiro, eu poderia ser rica... mas eu neguei. Talvez pela esperança de te encontrar um dia, com a idéia insana de que poderíamos ser felizes. Neguei, a pus para fora com ódio e a Sra. Saint me acalentou. Oh querido, não queria ter de lhe contar sobre o que vem a seguir, o quanto dói lembrar disso. E é por este motivo que estou aqui. Neste sanatório em Greenhall.

Passaram-se sete dias desde que encontrei aquela mulher sedutora, e então, ela viera novamente. Era noite... Lembro-me com clareza destes fatos.
Estava deitada em minha cama, e ainda acordada, pois estava a ler um livro. Senti frio, ouvi portas baterem e então, gritos. Sra. Saint, eu gritei e caminhei até seu quarto, tudo estava escuro e as janelas do corredor estava aberta e as cortinas dançavam. Passei pela sala para ir ao quarto da senhora. Eu juro... eu vi. Vi Vultos passarem pela sala, embora meu medico diz que fora tudo alucinação. Eu vi.
Um vaso caiu, as sombras dançavam por onde a luz de fora podia entrar. E então, quando alcancei o quarto da pobre senhora. Ela estava morta em seu leito, a cama empapada de sangue. Por Deus, essa imagem não sai da minha cabeça, seus olhos estavam abertos. Olhando para o teto e nele... Havia alguma coisa ali, escura como sombra, mas tão sólida e palpável quanto o próprio teto. Vi olhos verdes, brilharem e olharem para mim. Eu gritei, corri pelo corredor. Cheguei a sala e então, como não percebi antes, a casa estava infestada deles. Todos presos as paredes, com olhos verdes e claros, com brilho próprio. Me observavam. Tentei correr, mas minha bolsa estourou neste momento. Senti as dores da contração. Eram terríveis, nauseantes. Vomitei enquanto me arrastava pela porta, gritando na esperança de que alguns visinhos acordassem e viessem acudir-me. Mas ninguém veio. Ninguém. Então, ela abrira a porta da frente, vindo em minha direção, usando um vestido preto, extremamente decotado. Sua pele era branca e seus olhos mantinham um brilho peculiar das outras sombras ao meu redor. Eu baixei a cabeça contra o piso e rezei enquanto aquele som maldito dos sapatos dela aproximava-se de mim. O cheiro de seu perfume invadiu minhas narinas, impregnando-a, ainda sinto tal cheiro adocicado, misturado com o odor de fornicação.
Ela viera até mim e sussurrou em meu ouvido. Eu queria meu bebê, a qualquer custo. Deus, como pode fechar os olhos para mim naquele momento? Mas apesar de eu rezar, de achar injusto que tudo aquilo estivesse acontecendo, era em você que eu pensava. De alguma forma esperava que você entrasse pela porta e me tirasse dali. Como sou iludida...
Aquela mulher... Ela... Enfiou sua mão dentro de mim e a tirou... Nossa filha, nossa bela menina. Deus... Ela tirou de mim. Era tão linda sua filha, e tinha seus olhos, azuis como safiras.
A dor era insuportável, tanto a física quanto e a dor de ver aquela mulher sumir porta a fora e todas aquelas sombras e acompanharem como um turbilhão que jogou todos os moveis para os lados.
Eu gritei, chorei... Arrastei-me até a porta enquanto sangrava, mas ali fora não encontrei ninguém.
Deus...
Deus...
Quando me dei por mim estava no hospital, minha mãe segurava a minha mão e meu pai estava adormecido em uma cadeira.
A abracei e chorei e então lhe contei a verdade, e ela me olhou consternada. Disse que eu havia fugido de casa, mas que nunca soube que eu estava grávida e mesmo quando meu pai acordara. Disse que não sabia sobre aquilo. Lhe disse de quando ele me bateu e ele ficara horrorizado. Disse que me encontraram na rua, com os pulsos cortados.
E eu olhei minhas mãos, estavam realmente enfaixados. Eu tentei me levantar, aquilo não podia ser verdade, e minha filha? MINHA FILHA!
Os médicos chegaram, disse que eu nunca estive grávida. EU surtei, fui violenta, e minha dor, minha perda? Ainda podia sentir meu ventre violado.
Fui transferida para os hospital psiquiátrico. Ainda me nego acreditar que tudo aquilo que vivi fora uma alucinação, ainda sinto o cheiro dela, ainda tenho o cheiro de sangue nas mãos. Ainda vejo os olhos azuis de nossa filha quando fecho os olhos. Onde estive durante o tempo que estive fora de casa? Foram meses...
Não sei como encerrar essa carta, ela faz parte do meu tratamento. Ainda que me negue a acreditar que fora isso tudo uma ilusão.
Não sei se você vai acreditar em mim, ou se vai mesmo ler essa carta. No fim, acho que tanto faz, nada vai mudar meu estado. Jamais.
Meu amor, espero que ao menos esteja sendo feliz em sua vida. De verdade.

Não desejo perturbar sua vida pacata. Com sua esposa e talvez filhos. Só queria que você soubesse de tudo o que aconteceu desde que nos encontramos pela ultima vez.
Desejo a você, toda a felicidade do mundo, e apesar de toda a dor que senti, de toda a tristeza, eu não o culpo.

Um beijo em seu rosto, espero que ao menos o perfume desta carta lhe faça lembrar de mim.

Até mais.


Karine Fransier”



O homem terminou de ler a carta com lagrimas no rosto, que pigavam molhando o papel em suas mãos. Depois daquilo, certamente sua vida não seria mais a mesma. Mesmo que ela tivesse tido tal alucinação, a culpa era dele. Era isso que sentia. E se ela tivesse tido realmente aquela filha, a filha cuja qual nunca tivera. O que devo fazer? Ele pensou.
Mal notara que sua esposa estava abrindo a porta. E então, o encarou, com os olhos vermelhos e inchados. E por mais que ela perguntasse o que estava havendo, ele não abria a boca, não tinha forças para falar. Estava destruído com papeis na mão.
Ele entrou a carta nas mãos da esposa, pegou o casaco rapidamente e as chaves do carro. E deixou a casa.
O destino? Talvez o Sanatório Municipal de Greenhall. Mas isso seria outra historia. Ali, sua esposa lera a carta e certamente vite e quatro anos de casamento tenha ruído, mas ela conhece o marido que tem e certamente o perdoaria, afinal ela nunca pudera lhe dar um filho.

Mas enfim, Era fato que talvez, a mulher de olhos Verdes pudesse ser, na verdade, Luxuria. E ela, certamente está olhando para você neste momento, Mas isso pode também ser uma alucinação, uma ilusão... Ou não.

















Douglas Reverie