quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mente in Animo

Olá, mais uma vez depois de algum tempo, ( noss, como sou chato e demoro tanto para postar as coisas, não? podem xingar HEHE) aliás, tempão não é?
Bom, devo fazer algumas considerações antes da postagem, como de fato sempre faço á contra gosto, mas faço. Devo acrescentar o que todos já devem saber, isto que posto aqui é uma ideia crua, sem revisão. Apenas rascunhado e postado.

Acredito que este é um conto estranho, assim como os outros, suponho. Eu fiquei apaixonado por ele.
Imagine você, leitor, tendo de lidar com problemas pscológico, não ter lembranças de certos momentos e, bem, ao lembrar descobre o quão fora assustador. Aí vem o pior, ter a duvida latente de que aquilo pode ou não ser uma ilusão, uma brincadeira da mente. Já dizia Dr. Desty Nova "A Mente é apenas um Brinquedo para o Corpo."
Imagina um lugar de você que processa informações maravilhosas, que faz com que todo o corpo funcione, que faz com que sinta calafrios, que sinta aquele friozinho na barriga. É ele também o culpado pela dor e prazer, pela vontade de rir e chorar.
Em uma analize mais profunda, acredito que sim, o cérebro seja um brinquedo do corpo... ou seria o contrário?

Boa leitura e Abraços a Todos.



Mente in Animo





“A psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais dos indivíduos.”



“A avaliação psicológica é entendida como o processo científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas. Os resultados das avaliações devem identificar os condicionantes sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de serem instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes sociais.”




Mãos trêmulas seguram um pedaço de papel, havia nele pingos de sangue e sua mão, delicada e feminina, segurava o envelope enquanto sentada numa cadeira, cuja visão a sua frente é as montanhas e onde a cadeira está é a uma cabana velha... Um chalé de família...
Na Carta, estava relatado o seguinte texto





“Dr Nicol Thomas, 18 de abril de 2010



Não sei como saudá-la no inicio desta carta. Talvez um ‘olá’, um ‘oi’ ou ‘bom dia’ não sejam o suficiente.
Heloíse, espero que leia esta carta até o fim pois passei dias olhando para o papel esperando e esperando a coragem vir até mim. Hoje será a ultima chance de lhe dizer a verdade.
Em vinte e cinco anos, atuando como um profissional da psiquiatria, alguém que cuida da saúde mental das pessoas, nunca, nunca me deparei com tal acontecimento que tenha sido a razão pela qual alimentei uma depressão tão profunda... Acompanhada de uma ansiedade tão incontrolável quanto um vulcão prestes a entrar em erupção. Eu sei, Heloíse, que nunca contei isso a você, em doze anos. Apenas enviando cartas para dizer que estou bem, pedindo para que acreditasse em mim.
Querida, espero que entenda o que está escrito nesta carta e de fato não conte a mais ninguém, pois sei que estou a pondo em um risco eminente, pois “Eles” podem estar atrás de você. Por isso eu pedi para que deixasse Green Hall e fosse passar um tempo com sua mãe, espero realmente que esteja lendo esta carta na casa da mesma. Após lê-la, a destrua, queime-a e jogue as cinzas ralo abaixo. Sei que não tenho o direito de envolvê-la nisso, e que após tanto tempo se alguém descobrir que ainda tento manter contato com você...
Enfim, vou lhe contar o que aconteceu naquele dia, aquele horrível que hoje me arrependo de ter atendido ao telefone, se é que ele tocou.

Naquela manhã de 18 de abril de 1998, recebi uma ligação do sanatório. A enfermeira Thompson relatou que um garoto de aproximadamente nove anos havia dado entrada no sanatório com surtos psicóticos, alimentados á fantasias delirantes. Mas havia algo na voz dela, algo assustador que ela preferiu não dizer no telefone. Sua voz tremia enquanto se despedia.
Levantei-me e a deixei dormindo, querida. Vesti-me com o paletó, que você havia me presenteado, e peguei minha maleta. Havia neblina naquela alvorada, e a cidade toda estava em silencio enquanto eu a cruzava.
As luzes externas do sanatório estavam ainda acesas e a ambulância estava parada a porta junto à recepção. E assim como o restante de Green Hall, tudo estava em silencio, o que era raro devido ao tipo de pessoas que eram internadas ali.
Contive a vontade de ascender um cigarro e então desci do carro, dei uma ultima olhada no espelho, havia ali os primeiros fios brancos em minha barba e cabelo. Arrependo-me ter posto os pés para fora do carro, pisando naquela poça de água que molhou minha barra.
Ajustei os óculos no rosto enquanto, do banco de trás, tirava meu jaleco branco para entrar na instituição. Passei pelo estacionamento rumando para a recepção ás pressas, e de relance vi uma marca na ambulância, voltei e olhei novamente para o carro na porta. Havia ali quatro ou cinco buracos de tiro, um dos pneus estava furado e o vidro do carona estava quebrado.
Adiantei-me para a enfermeira Thompson, que estava na recepção, estava frio como sempre ali. Ela estava sentada, olhando o computador, não havia mais ninguém.
Demorou até ela me perceber, já junto ao balcão. E quando ela me viu, deu um salto da cadeira, seu olhar estava vidrado e assustado.
Bom dia Dr. Thomas.’ Disse ela num tom trêmulo e fraco.
Perguntei a ela o que havia acontecido e ela me relatou a chegada do garoto, com a camisa de força. Chegaram ao sanatório, acompanhados pela policia, que aguardava um atestado psicológico do menor.
Pedi a ela providenciasse a sala para que eu pudesse examiná-lo, ela disse que o garoto já estava no local.
Pelo vidro da porta, observei a figura, quieta, com a camisa de força suja de sangue. Ele estava de cabeça baixa com os cabelos molhados, havia ali, junto dele, um policial e um enfermeiro, ambos assustados.
Abri lentamente a porta.
Os dois, o guarda e o enfermeiro, levantaram-se cumprimentando-me. O Policial viera até mim antes mesmo que eu pudesse responder a saudação, puxou-me para fora da sala e encostou a porta, apavorado e olhando pelo vidro a criança de cabeça baixa.
Não sei quais sãos suas crenças, Doutor, mas sinceramente duvido muito que esta criança esteja realmente louca. Quando chegamos a casa do garoto, respondendo a ocorrência dos vizinhos, invadimos, pois haviam dito que ouviram gritos e...
O pobre homem estava transtornado, voltei rapidamente à recepção e peguei um copo de água para ele. Ele estava sentado num banco próximo à porta.
Conte-me, eu disse e ele continuou.
Vimos o garoto, com a faca na mão, a mulher na sala com...Deus... a barriga aberta, os órgãos estavam todos para fora e... Dera trabalho pegar o garoto, que estava empapado no sangue da mãe, meu colega recebeu uma facada no braço. Deus, o garoto parecia possuído ou algo do gênero, sua boca estava toda cheia de sangue e carne... Nunca mais quero ver algo assim. Ele dizia coisas como, “eles vão te matar policial”...
O guarda suspirou tomando goladas da água.
‘Depois de algumas ameaças, ele se calou e então chamei a ambulância e o trouxemos direto para cá e... Ele chegou aqui, de alguma maneira se livrou da camisa de força e pegou a arma de um dos guardas, sorte que errou os tiros, pegaram todos na ambulância.’
Neste momento, o enfermeiro que estava ali abriu a porta, chamando-me.
Ele disse que quer falar com o senhor, o garoto’
O guarda ficara olhando pra mim, assustado.
Doutor, se acredita em Deus, reze para ele, não devia ser o senhor a adentrar aí, mas sim um padre...
Entrei, embora estivesse impressionado com aquilo e pedi para que o enfermeiro desse algum calmante para aquele homem.
Dentro, sentei-me de frente para o jovem. Não devia ter mais que sete ou oito anos. Estava pálido, sujo e os cabelos ensebados e molhados. Era um garoto magro, olhos fundos e sofridos.
Olá, eu disse e então o garoto voltou seus olhos para mim.
Olá doutor.’ Disse ele com sarcasmo, olhando direto no fundo dos meus olhos. Os olhos do menino eram de cor castanha, seu rosto estava repleto de sardas. Ele continuou após um momento em silencio. ‘Essa não é a primeira vez que encontro um profissional da mente como o senhor, mas no meu tempo eles ainda não existiam.
O garoto mantinha alguns tiques e um descontrole emocional, pois suas expressões mudavam constantemente enquanto ele me encarava.
Notei que ele carregava um sotaque estranho, como que nascido em outro país.
Qual seu nome?, indaguei.
'Depende, tive vários nomes no decorrer de minha existência...
Naquele instante gelei e nem mesmo lembrei-me de tomar nota do que perguntava ou das respostas, e até mesmo esqueci que perguntas faria, queria abandonar aquele consultório e vomitar no jardim.
Acalme-se, Doutor, imagino que esteja tendo um conflito interno quanto a ligações lógicas explicáveis e o credo que segue. O que faz ou não faz sentido... Também posso estar errado e você apenas está assustado e com náuseas...
Lembro-me com clareza de suas palavras e sua voz infante ainda ribomba em minha cabeça apavorada. Ele estava me testando, me analisando e divertindo-se com aquilo. Por instantes imaginei se o mesmo não era um demônio, ou uma criança superdotada. Minha cabeça já buscava explicações delirantes...
Meu nome é Akila Bennu , nasci em 1255 depois de Cristo, no Cairo, mas no decorrer de tanto tempo tive variados nomes e mesmo antes de ser Akila Bennu, certamente tive outros milhares...
O garoto me sorriu, de forma estranha.
Daria tudo por um cigarro... Não fabricam como antigamente, charutos artesanais eram divinos mas esses cigarros industrializados ainda servem de alguma coisa.’
Ele ficou me olhando por instantes...
Ainda pareço uma criança psicótica, Doutor? Ou um demônio que possui corpo de criança? Se achar a segunda, me leve a um padre...
Ele gargalhou, mas certamente se ele estava possuído não parecia ser um demônio.
Sabe porque o deixei entrar aqui Doutor? Porque eu pedi para que viesse falar comigo?
Engoli em seco enquanto negava com a cabeça.
'Acho que você tem o potencial necessário para saber a verdade, afinal, não vou ficar muito tempo aqui. Aprendi a conhecer as pessoas, tenho alguns poderes que me entregam a índole delas, posso por que... Bem, quero que você seja meu aprendiz, uma hora eles vão me achar e então, já era. Arruma-me um cigarro?
Aprendiz? Perguntei, aquilo era insano, contive meu impulso de levar a mão a testa para saber se estava febril, se não era eu mesmo o delirante. Quando se convive tanto tempo com pessoas com a saúde mental comprometida, acabamos desenvolvendo uma fobia inegável de um dia terminar assim, louco...
Sim, você não me respondeu, tem cigarros? Sei que você fuma, seu jaleco tem cheiro de nicotina. Vamos, me entregue este cigarro antes que eu me solte novamente dessa camisa de força e retive o fumo do seu bolso a força. ’
É proibido fumar aqui dentro, respondi de forma fria, tentando impor um controle sobre meus medos.
Quem é você, Akila Bennu? – indaguei novamente.
Não digo nada se não me arrumar ao menos uma tragada do seu cigarro’
Ele sorriu pra mim, com os olhos frios por baixo daquele cabelo molhado, a face suja de sangue coagulado...
Peguei o cigarro, ascendi e dei para o jovem, ainda que sentindo aquilo errado... Ele tragou metade em uma só puxada, soltou a fumaça pelo nariz, como alguém experiente naquilo.
Que maravilha, não sinto essa sensação de nicotina no cérebro fazem... uns doze ou treze anos, já estava enlouquecendo...
Ele me dera um sorriso de escárnio, peguei o cigarro e apaguei, após aquele dia nunca mais fumei...
Sou Akila Bennu, um escravo de Al-Nasir Muhammad, durante seu tempo no Egito.’
Ao mesmo tempo em que achei que pudesse ser uma mentira, eu fiquei maravilhado com aquela afirmação.
Mesmo que isso seja verdade, continuei... O que faz aqui?
Acredita em imortalidade, senhor Thomas?’ Aquilo parecia um absurdo, mas ao mesmo tempo não sabia em que acreditar, ele pediu o cigarro novamente, eu lhe dei ele tragou profundamente e soltou o cigarro de maneira solene, se é que isso poderia acontecer assim.
Vou lhe contar, de maneira mais resumida, claro...
E então, Akila começou...

Como disse, nasci no Cairo. Minha mãe era escrava e eu, consequentemente, também era. Não a conheci, pois cresci como os escravos que serviam o Sultão Mameluco Al-Nasir Muhammad, carregávamos roupas, auxiliávamos em seu banho, carregávamos comida... Entre muitas outras tarefas.
Foi assim toda minha infância, servindo a Al-Nasir... Mesmo antes de tornar-se Sultão, ainda servíamos a ele e a sua família. Cresci como um escravo e então, entre tantos escravos, um dia ele me notou, fui treinado para ser um assassino, para proteger sua figura de qualquer ataque. Aprendi todas as artes com a espada. Lutei em guerras em nome de Al-Nasir e então, no fim do segundo reinado, ele me enviou junto a exploradores, para África, a fim de averiguar uma lenda sobre a vida Eterna. Olhando pra mim agora, você já deve saber o resultado dessa busca, não é mesmo?
Atravessamos desertos causticantes, enfrentamos feras das quais nunca havia sonhado existir, assassinamos muitos no caminho até chegarmos aos confins do mundo...
Posso garantir, meu caro Doutor, vi Yggdrasil com meus próprios olhos, era bem guardada por soldados de pele ainda mais escura que a nossa, que diziam ser ali onde começou a vida humana.


O garoto deu uma pausa, pediu por outro cigarro e então continuou, com uma face séria que qualquer um acreditaria se tratar de um velho sábio e louco.
Diziam eles, no entanto, que quem provasse de seu fruto no centro daquela floresta poderia enfim ganhar a vida eterna, mas não cabia aos mortais provar de tal fruto e que ninguém dali jamais o fez, pois a arvore era sagrada e seu fruto também.”
“Doutor, imagina o prédio mais alto do mundo, agora acrescente pelo menos mais um, igual, acima dele e você terá o caule de Yggdrasil, sua copa cobria a floresta como uma nuvem gigantesca, que fazia dali uma floresta escura e fria”.
“A tribo dissera que éramos o segundo grupo a vir visitar a arvore mãe e que os primeiros a respeitaram como ela sendo Deus e seu fruto sendo a forma sagrada do corpo.”
“Apesar de vislumbrarmos aquela arvore gigante, perdida entre montanhas ferozes, não podíamos nos aproximar dela. Mas devo dizer, Doutor, aquela arvore era imponente, linda. Se no catolicismo existiu algum paraíso, certamente seria ao redor daquela arvore. Aquela tribo nos disse que suas raízes chegavam até mesmo no mundo dos mortos e por esta razão os corpos deles eram levados aos pés da arvore e enterrados junto as raízes. Eu estava maravilhado. Entende o que é nascer num deserto, onde havia poucas arvores? Onde, além das necessidades, aridez e sofrimento, ainda carregávamos a dor de sermos escravos... Ali eu era livre, não um soldado escravo do sultão Al-Nasir, mas um homem aos pés de Deus.”

As palavras são tão nítidas em minha cabeça, querida... Que... Desculpe, acho que molhei esta folha.
Levantei-me e busquei água, não encontrei ninguém nos corredores e voltei rapidamente para a salinha.
Akila ainda estava lá. Dei água para o mesmo beber e me acomodei na cadeira, assim, ele recomeçou.
Deus, eu podia vê-lo, não era como imaginávamos mas certamente ali, naquela arvore que emanava vida, eu o vi. Se projetando para o céu...”.
“O líder daquela companhia certamente voltaria para casa nos próximos dias, levando-nos consigo e mais alguns meses de viagem. Certamente assassinaríamos aquelas pessoas, daquela tribo, e levaríamos o fruto para o sultão. Todos tão fieis a aquele crápula. Aquele maldito!
“Mas eu não, e quando anoiteceu, desci as escondidas à floresta em direção à Arvore Mãe. E os galhos de Yggdrasil já cobriam meu céu, deixando o caminho até sua base ainda mais sombrio e ali, naquele silencio taciturno, fui obrigado a profanar a terra com sangue daqueles nativos para seguir em frente. Não sabia como escalaria aquela arvore. Mas não mediria esforços para alcançar minha liberdade. Assim o fiz, cheguei a base escura e fria de Yggdrasil, mal via minhas mãos a minha frente. Certamente era uma viagem sem volta... Mas, acredite ou não...”


Ele dera uma pausa e sorriu...
“Já vira uma estrela cadente, não é Dr. Thomas?”
“Enquanto procurava um modo de escalar, algo caiu iluminando a floresta.”
“Era o fruto, Doutor... Ele pulsava, parecia um pêssego, tão grande quanto minha cabeça. Eu o peguei, em minhas mãos, era tão pesado, o peso da Vida.”
“Disseram-me, mais tarde, que a cada fruto que caía da arvore, era uma alma que morria, e que depois se juntava com a terra, como aquele fruto para enfim ir para o mundo dos mortos. Mas eu interceptei um desses frutos, essa alma prestes a deixar de existir. Abri o fruto e ele sangrou em minhas mãos, quente e rubro como a vitae humana. Hesitei por instantes e então, comi do fruto, da carne Fruto de Deus. Entende o que é isso? Sentir aquele sangue quente adentrar seu corpo, o encher de vida?”
“Comi todo o Fruto, engoli até mesmo a casca que parecia pele e guardei suas sementes, quatro delas.”
“Limpei-me do sangue e abandonei as sombras divinas, na manhã seguinte partimos com a informação da existência de tal arvore, sem que ninguém soubesse o que eu tinha feito.”
“Caminhamos por meses... e eu, adoeci. Minha pele sangrava juntos com meus olhos, era algum tipo de punição? Certamente... Fui carregado de volta, demoramos o dobro para voltar e quando chegamos, no Cairo. Al-Nasir já não mais era Sultão, mas os soldados eram fieis a ele. Fui colocado, enfermo, próximo a ele. E o maldito aproximou-se de mim e sorriu.”
“Perguntou a si mesmo em voz baixa, se aquele era o resultado então do fruto... Malditos, eles sabiam, sabiam que eu consumiria o fruto... Al-Nasir então se alimentou de meu sangue e sozinho abrira meu corpo, ainda vivo. Lembro-me da dor lacerante. O terror de vê-lo, sem poder defender-me, divertir-se com meus órgãos. Ele dissera a mim, enquanto me torturava.: O outro grupo que visitara Yggdrasil voltaram todos enfermos daquela maneira, mas os outros que alimentavam-se de seu sangue tornaram-se imortais. Este era o método, tomar o sangue profanado... comer a carne profanada...”
“Então, morri naquela mesma tarde, horas depois de ter chegado. Mas eu acordei, num corpo de uma criança, de cinco anos. Eu renasci. Renasci e me lembrava da vida anterior. Incrível não é mesmo? Passei a viver como outra pessoa, mas havia algo de errado comigo, eu tinha de me alimentar de carne... Não mais podia me alimentar de comida comum. Se não comece carne humana, nada me satisfazia, no inicio fora terrível. Sentia-me um monstro.”
“Mas a cada vez que renascia e vivia uma vida diferente, sendo homem ou mulher, compreendi minha maldição eterna. E já haviam se passado muitos e muitos anos, séculos que deixei de ser Akila Bennu, adotando vários outros nomes desde então, aprendendo varias línguas e culturas. Até eles me acharem... Al-Nasir, ao alimentar-se de minha carne, fora ainda mais amaldiçoado. Proibidos de caminhar de dia para todo o sempre, mantendo um corpo imortal, mas uma alma fraca e doentia. E foi aí que descobri, eles não acharam as sementes que carreguei comigo, eles a querem para tornarem-se seres completos. Entende?”
“Eles vivem até hoje, a minha procura... Eu sei onde estão as sementes, mas eles não sabem... No entanto, eles aprenderam velhos encantamentos e mágicas profanas para aprisionar almas, por isso não posso ser pego. Nunca. Até hoje não conheci ninguém que fosse como eu.”
“Sabe, aprendi também algumas mágicas, feitiços entre outros, por exemplo, eu sei quando e onde nascerei. Não posso escolher o lugar ou tempo, mas sei onde será. Doutor, após toda nossa conversa, ainda tem duvidas sobre mim? Eu o quero para ser como eu. Entende? Posso lhe dar as sementes e... Eu vejo que seu coração é puro. Al-Nasir multiplicou-se com o tempo, agora, há milhares deles espalhados pelo mundo, o que vocês chamam de Vampiros. Não posso lutar sozinho. Preciso de alguém para que eu possa ensinar meus segredos. Alguém que possa me ajudar a acabar com estes monstros... ”


O garoto ficou um instante fitando seriamente meus olhos, então, eu dei de ombros, saindo da sala e ao olhar pelo vidro da porta, seus olhos profundos e estranhos encararam os meus.
Aquilo era absurdo.
Não podia fazer sentido algum, mas o garoto foi convincente, mesmo que aquilo fosse um simples delírio infante, um surto de loucura, um estouro magnífico da criatividade, ele fora muito convincente.
As palavras dele ribombaram na minha cabeça pelo restante do corredor. Fui até a recepção, lá bebi café.
A enfermeira Thompson não estava ali, mas o café estava quente. Bebi dele enquanto refletia o que poria no prontuário. Seria um relatório e tanto. Então, fui até a cozinha, na tentativa de encontrar alguém naquele silencio mórbido. A nevoa lá fora estava dissipando-se.
Atrás de mim, senti um vulto medonho, gélido. Havia um vento surdo e... Desculpa querida, não sei como lhe contar.
Havia alguém ali, alguém mais. Alguém que calava os loucos e os fazia recolherem-se em si mesmo buscando socorro, eu sabia, eu sentia. Havia algo errado. No meu âmago, eu sabia, eu sempre soube.
Então, deixei a razão de lado na morada dos loucos. Deixei minha razão naquele corredor e voltei em direção a Akila. Por instantes eu deixei de acreditar na loucura e passei a acreditar que aquilo tudo era verdade. Não havia nenhum distúrbio comportamental naquela criança.
Enquanto corria, meu coração batia como se fosse a ultima vez que o faria. Freneticamente derramando com balde a adrenalina e minhas veias, meus olhos lacrimejavam e minha pele suava...

Quando entrei na salinha, o garoto estava morto.

E com a nevoa minha loucura se foi, assim como o silencio sombrio que encobria o sanatório Santa Cecília.
Como um coro os loucos gritaram, berravam seu medo reprimido, sua ansiedade contida na profusão insana do subconsciente. Minha frieza fora mantida intacta, minha razão se sobrepôs novamente e me forcei acreditar que aquele garoto, com uma gilete transpassada no pescoço, banhado em seu próprio sangue, era apenas mais um cidadão louco de Green Hall, mais um psicótico, vitima de sua própria mente delirante.
Respirando fundo, levei minha mão até o telefone. Notei a janela aberta, notei pegadas de sangue no chão, mas eu me negava a ver. Me negava a querer levar aquilo adiante, senão, senão eu terminaria como ele. Suicida, diante de um devaneio insano.
Por isso, eu repito, querida. EU não matei aquela criança. Mesmo que minhas mãos estivessem sujas com o sangue dele, aquilo não fazia sentido... As pegadas no chão eram minhas, saindo corredor afora e voltando... Deus. Minha cabeça dó de lembrar.
A policia chegou e eu não tive coragem de me manifestar...
Quando parei para pensar, repassar tudo que havia ocorrido, lembrei-me de algo assustador. Ela não existia. A enfermeira Thompson nunca existiu. Não havia ambulância alguma na porta da instituição. Não havia guardas nem enfermeiro. Será eu que adentrei de madrugada naquele lugar e matei aquele criança, depois fui fazer um café e voltei friamente para ver o corpo? Me dá náuseas lembrar. Imaginar se fora eu mesmo quem fez aquilo...

Mas uma coisa era verdade. A mãe do garoto fora encontrada morta na casa, despedaçada com uma gilete.

EU ter imaginado aquela cena... Não era uma lembrança, não é? Digo, eu apenas imaginei aquela mulher sendo morta. Mas eu não a conheci... Nunca a tinha visto.
E então, me perguntei varias e varias vezes se eu havia enlouquecido
E outras perguntas seguiram-me. Matei aquela mulher e seqüestrei uma criança. Pra que? Seria eu mesmo um psicopata? Tantas perguntas e lembranças, que as vezes creio ser a verdade e outras vezes tenho certeza se tratar de devaneios. Minha mente brincando comigo. Mas o meu terror realmente começou depois disso, Heloíse.
Encontrei, em meu jaleco minha agenda toda suja de sangue.
Demorei ao menos dez dias para abri-la, enquanto fugia da policia... De você, de todos afim de provar a mim mesmo que não estava louco.
Aí encontrei.
Riscado com sangue uma data e hora.
Passei o restante dos anos, após ter queimado aquela agenda com aqueles números repetindo em minha mente ansiosa.
Desde então, “Eles” me perseguem, eu os vejo em toda esquina. Eles rondam meu esconderijo durante a noite... Não Agüento mais isso. “Eles” são poderosos, influentes. Sua simples presença gela pessoas e eles me querem, querem a verdade. Seria eles delírios criados por mim? Um estado em minha psicose fazendo que me sinta perseguido? Creio que não.
Faz doze anos que minha vida acabou. Que não faço nada mais que fugir, que me esconder.

Gostaria de ter minha vida de volta, de voltar para você.

É Hoje, a data que me persegue. Exatos doze anos após a morte de Akila, por isso pedi para que fosse embora, para que abrisse esta carta num lugar seguro. Eles podem tentar te usar para chegar à mim.
Tenho que tirar isso da minha cabeça, o quanto antes. Tenho que ver com meus próprios olhos. Se esta criança nascer, se ela for mesmo Akila, poderei tirar essa amargura de culpa que me tortura tanto... Se realmente Vampiros existem, se Realmente não estamos sós, se estas trevas forem reais, então... Se eu matei aquele garoto... DEUS... Certamente cedo ou tarde encontrarão meu corpo suicida em alguma vala.
A Única razão pela qual sobrevivi até hoje, foi a ansiedade, a idéia mínima de que Akila pudesse ter dito a verdade, que tudo aquilo que aconteceu fora uma ilusão. Se ele realmente existir, se ele é um ser de poder como diz, então certamente poderei reaver minha vida. Quero estar com você, Heloíse, mais que qualquer coisa. Sei que sempre escrevi para você, para dizer como estou... Adoraria nestes doze anos poder ter recebido cartas respostas... EU A AMO, tanto, tanto...
Vou passar isto a limpo. Terminar esta guerra interna entre verdade e mentira. Entre real e Ilusão. Entre a Razão e a Loucura...
Eu a amo, Heloíse, nunca se esqueça... ”


Green Hall
Nicol Thomas.





O sangue pingava agora dos punhos da esposa de Thomas, encharcando a carta e tingindo a madeira de pinho no assoalho da entrada com uma cor forte e rubra. Passadas leves pelo piso, de uma figura sombria, alta de longos cabelos pretos, observava com olhos verdes a velha casa, cada cômodo. O som leve do salto contra a madeira, fora ficando baixo e leve. A roupa preta e o manto que se arrastava ruidosamente também fora sumindo. Houvera um sorrisinho feminino, baixo, impiedoso, luxurioso.
A carta na mão de Heloíse se desfez em pó, que o vento levou para a terra.
A mulher, próxima a cadeira, abaixou-se, colocando ali,próxima a mão da esposa de Thomas uma gilete enferrujada. Desceu a escadinha e se misturou com as sombras do crepúsculo.
Estava frio.
Frio como sempre haveria de ser. Frio e escuro como o lado de fora do Éden. Era assim que devia ser.



Mente in Animo
Fim?

6 comentários:

Etinex'Nay disse...

Nossa acho que vou vomitar. >.>

E NÃO É PORQUE TÁ RUIM. Sério, às vezes quando as coisas são fodas demais eu fico com enjôo, é tipo uma montanha russa.

Sério mesmo, tô impressionado, você se tornou um escritor de terror, mano \o/

Nossa, muito bom... O clima, a escrita, tudo. Nossa pirei...

Eu me lembro quando você era aquele maluco que postava O Livro do Caos na comu dos contos e, MANOLO, como tua escrita evoluiu e tuas idéias amadureceram pra um patamar fodido. E fodido no bom sentido!

Parabéns.

Enrico disse...

Muito criativo esse conto, que inevitavelmente induz a curiosidade de saber o que acontecerá em seguida!
O termo 'vampiro' foi bem trabalhado!!

Heitor V. Serpa disse...

Cara, por isso sou seu fã... olha que releitura do caralho que você fez dos mitos de vampiros e lobisomens! PQP!! Velho,eu fiquei agarrado nesse texto, li numa tacada só. Continue assim que vc só tem a colher frutos maiores depois (e tomara que nenhum deles te faça imortal nesse sentido macabro, hehe).

Abraços!

Biiscuit Rita Mel disse...

rs..."quando ele era aquele maluco"

Bah muito bom...SINISTRO... li em voz alta aqui em casa...

Nossa Douglas meteu terror...putz eu vou sonhar com issooo, to di baga!


...CURTI

Fabio disse...

Gostei da história ;P
me lembrou um pouco de vampire

Deeh disse...

Nossaaa, esse foi um dos melhores textos que você já escreveu!!!! Eu já te disse, mais digo de novo, SOU SUA FÃ! Caraa, você é foda! Parabéns!!! (continue escrevendo assim!)